quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Extremo eu


Eu vivo de extremos

No limite

Do ódio

Do amor.

Eu persigo

Faminta

Lobo selvagem

O nunca e o sempre

E por isso

Acabo prisioneira

Do meio

Do quase

De tudo aquilo

Que tenho pavor...





domingo, 5 de fevereiro de 2012

O Violeiro


Ao escrever este texto, inicialmente pensei em trocar o violão por uma gaita, o homem por uma mulher... A intenção era que o texto ficasse menos fiel ao fato e assim não fosse identificável o outro protagonista. Minha preocupação era que algum dia o violeiro que tanto admiro lesse esse texto e se sentisse de alguma maneira diminuído. Depois, pensando melhor, vi o quanto estava sendo petulante. Como posso eu, imaginar que um homem como aquele, iria se lembrar da garota que um dia teve a honra de acompanhar seu show, feito para milhares de pessoas, mas que teve apenas uma na platéia... E caso um dia ele leia, e caso lembre-se, certamente vai pensar: “Coitada, ela é só uma garota, não sabe o que é arte, não sabe o que diz.” Ou talvez pior que isso, ele pense: “Coitada. A garota já é adulta. Não há mais nada a se fazer.” Convicta disso, e liberta – ainda que por uma triste realidade, divido com vocês o relato de uma tarde de sábado - fevereiro de 2010. Pode parecer crônica, poesia... Mas é apenas o diário daquele dia real que me permitiu esse encontro inspirador por si só. Dia desses, conheci um homem e um menino. Uma pessoa só. Ele aparentava seus 50 anos, enquanto me sorria, escolhia guloseimas como se faz um garoto. Depois de comer os doces, ele fuma uns dois cigarros seguidos. Andava de uma maneira desengonçada para um homem daquela idade, mas perfeitamente corriqueira para um menino de oito ou nove anos voltando da escola; passos curtos, quase saltitantes, corpo pêndulo com o peso da mochila. Tinha marcas nas mãos e nos braços, algumas recentes. Não me apeteceu perguntar do que se tratavam. A roupa era encardida, para não dizer suja. Os dentes todos estourados, para não dizer podres. Carregava consigo um violão, surrado, antigo, lascado. As cordas com sobras enormes nas tarraxas formavam caracóis, a madeira já era fosca, seca. Contou-me enaltecido que já havia sido reformado três vezes. Eu também carregava o meu. Um Eagle elétrico, parecendo até encerado, reluzente. Não senti orgulho, na verdade foi quase vergonha. Parecia que o meu não tinha história, paixão, cicatriz. Talvez fosse até verdade. Nos sentamos. Ele começou a tocar. Não tinha talento, mas acreditava ter. Tinha vontade, persistência. Perguntei-me quanto tempo teria levado para conseguir tocar a primeira música e se eu não teria desistido na metade do tempo. Mas o que ele tinha realmente não era vontade, tão pouco persistência. Era fé, fé nele mesmo. E a voz desafinada, o compasso por tantas vezes perdido era bonito de se ver e de se ouvir. Fiquei ali, em silêncio, acompanhando timidamente apenas com o batuque das mãos em minhas pernas. Ora ele me olhava, e suspendendo as sobrancelhas, como quem pedia que eu o acompanhasse, não por insegurança, mas por querer mais firulas no seu show. Então nos refrões lá estava eu, como suporte vocal – ao fundo, claro. Ele começa a tocar uma música antiga, eu cantarolo baixinho tentando acompanhar o sucesso dos anos 80 em uma roupagem nova, de ritmo desconhecido que, acredito, fazia parte do show. De repente ele cessa a voz e o instrumento, e como se aquilo fosse algo extraordinário, exclama: “Mas essa música não é do seu tempo menina!”. Eu apenas sorrio um daqueles sorrisos em que não se mostram os dentes e peço que continue, digo que gosto muito daquela música. Ele a toca como se eu fosse uma platéia de cem mil. Sinto-me lisonjeada. Ao fim, elogio, e digo que gostaria de tocar como ele. Depois percebi que o que eu disse era na verdade, verdade. Confirmando o que eu já sabia e que escrevi a pouco, sobre a crença, ele me responde em tom singelo, porém confiante: “Basta você treinar. Eu toco há muitos anos, talvez tanto quanto você tenha de idade. Se você treinar, um dia vai tocar como eu sim.”. As pessoas passavam apressadas, e por não ser habitual ao local - duas pessoas sentadas no chão, tocando violão e batucando as coxas - a cena como um todo despertava curiosidade. Uma menininha passa quase arrastada pela (suponho) mãe, me olha nos olhos, sorri. E enquanto tenta acompanhar os passos que são o dobro dos seus a garota vira a cabeça para continuar me olhando até se perder em meio as outras pessoas, arrastada pela mulher que a puxa na tentativa vã de fazer de suas perninhas maiores do que são. Penso o que estaria ela imaginando ao me olhar... Eu apenas me lembrei do quanto era bom ser criança. A noite começa a cair, é hora de voltar para casa. Abraço apertado aquele homem quase imundo, tão limpo, tão puro. Ele se vai, saltitante, sorrindo, de encontro à vida. Como se o mundo o estivesse esperando, como se o mundo fosse o melhor lugar do mundo – dele. Eu também me vou, vou embora pensando que aquele homem estava enganado, e lamento por ter essa certeza. Infelizmente eu jamais tocaria como ele. Lamentavelmente eu não tenho a mesma paixão pela vida, a mesma fé no mundo, nem em mim...

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Meu Grande Pequeno

Então tudo isso não passou de uma grande mentira. Foi tudo uma grande encenação. O coração, os ossos, as vísceras, a pele e até o amor e, agora o ódio que te dei, foi tudo em vão? Todas aquelas palavras, embrulhadas em lascívia, em amor, em espinho e em dor, eram só palavras? E o que não foi dito, o que nunca foi pronunciado? Seus olhos também mentiram todo esse pouco e intenso tempo? E agora o que eu faço com esse sentimento que eu não sei o nome? Jogo fora, reciclo, dou para os pobres, dou para outro? Ou guardo em uma caixa e coloco no fundo do armário ou debaixo da cama, como fazemos com aquelas coisas que não nos servem para nada, mas ainda assim não temos coragem de jogar fora. E os nossos pequenos planos, as férias, o armário na cozinha, o filme que eu não assisti? E agora quem vai bagunçar toda a casa, ou ligar a televisão quando eu quiser ler? Quem vai atrapalhar os meus planos diários de dormir antes das duas da manhã? Me diz o que eu vou fazer com esses vinis dos Beatles que não tem serventia nenhuma para mim além de te fazer feliz? Devo colocá-los também embaixo da cama? Enfim é chegada a hora de admitir que nunca e sempre foi só o que foi. Já não posso mais doar amor para apenas um, terei agora - a contra gosto – que entregar a razão a todos, todos os que me diziam que isso não passava de ilusão e que no fim eu sairia machucada. Terei que sucumbir ao engano e, pior: terei a árdua tarefa de convencer esse coração ingênuo e teimoso de que eles afinal sempre estiveram certos. E quando finalmente ele se convencer, ou apenas cansar-se de controverter, terei que dar colo ao meu pequeno, afagá-lo em meio ao seu pranto e mais uma vez convencê-lo de que a culpa não é dele, e que isso tudo logo vai passar. E agora meu pequeno coração me olha com temor, perguntando em silêncio se eu deixei de acreditar. No amor? Não se preocupe meu pequeno, no amor eu acredito.